quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ausência.

   Sem nunca ter sentido o gosto dos teus lábios, sabia que teriam o gosto mais doce do mundo; sem nunca ter olhado-o nos olhos, sabia que seria o olhar mais encantador; sem nunca tê-lo tocado, sabia que teria a pele mais macia e cheirosa que possível ter; sem nunca ter ouvido a tua voz, sabia que seria a que permaneceria em minha mente para sempre. Sem nunca ter amado, sabia que amava-te. Uma história sem prolixos, um único olhar responderia a todas e quaisquer perguntas. Todos os parágrafos dos textos presentes nas cartas (que mandava-te e que mandava-me) eram extensos, mas com uma conclusão simples e resumida: amávamos-nos. Tua letra caligrafada e a minha desleixada, ambas juntas tornavam-se perfeitas; nossas almas, uma pertencente à outra, eram incríveis, exuberantes. Queríamos um amor eterno, esbelto e incólume; queríamos um ao outro. Desejavas juntar as cartas quais recebi de ti e mostrar-te que guardei todas elas, numa caixinha que deste-me de presente; mostrar-te que ali, era resumido o nosso amor (um resumo bem extenso, com todas aquelas cartas). Contava-me os teus sonhos com nossos corpos colado um no outro; contava-me que sentiu em si mesmo, quando, num dos muitos sonhos, nossos lábios tocaram-se. Partilhávamos todos os sonhos ou devaneios que tínhamos; contávamos quais eram as nossas reações ao ouvir tocar a nossa música num lugar preenchido por uma multidão (eu bailava sozinha, imaginando teu corpo no meu). Lembrávamos das primeiras conversas, sem saber que tal imenso amor iria nascer ali. Agora aqui jaz um amor, só de mim (de mim à ti); pois, onde foste o teu amor (por mim)? Cansou-se e cessou-se? Perdemos-nos um do outro; fugimos um do outro; mas por quê? Perdi-te, perdi o caminho, perdi os sonhos; mas não perdi o amor, ainda carrego-o aqui comigo; como uma faca afiada que encontra-se dentro do coração, que vai rasgando e apagando a cor, dum vermelho límpido, de meu coração; e rasgando meu peito, perfurando-o dolorosamente. Indago-me: serás que nossas almas ainda irão encontrar-se por aí? Perdidas no mundo, com a ausência de “nós”, do amor de mim por ti e de ti por mim…  Afagou e depois afogou o nosso amor? Enterrou, soterrou e asfixiou-o?O nosso diálogo, agora és o meu monólogo. Sinto a nostalgia da tua alma, sinto nostalgia do “nós” que tu deu um “nó” e trancafiou num lugarejo qualquer. Martírio de nosso amor, oscilação de minha alma, dor da ausência que fazes-me. Não lhe eras o suficiente, lhe machucava ou tropicou numa outra alma mais límpida? São tantas perguntas para lhe fazer; és tanta a saudade que faz-me; és tanta a dor que dilacera-me. Tua partida roubou-me o pouco brilho que possuía, ofuscou-me por inteira.

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