domingo, 27 de novembro de 2011

As vidas.

    Caminho lentamente pela calçada estreita da avenida principal há tanta agitação na rua. Procuro analisar calmamente e minuciosamente os traços escondidos nos semblantes alheios, cada qual com a sua história. As ruguinhas de expressão acusam noites chorosas e dias alegres. Tento ouvir os batimentos compassados que transitam ao meu lado, imaginando a história que cada ser carrega junto ao peito. Cada um carrega um outro igual, como peso, como calma, mas os corações corriqueiros nunca estão sozinhos. Alguns estão ao telefone e outros caminham com paciência. No banco da praça alguns casais dividem sorvetes e sonhos, outros em cantos mais distantes misturam histórias em lágrimas e terminam a tarde impondo um fim definitivo. Atravesso a esquina seguinte e automaticamente vasculho as ruas a fim de encontrar qualquer coisa. Apenas de corpo presente, observo. Há tantas histórias as quais se misturar nas ruas e descidas da cidade, corações sofredores apelam aqui e ali por encontro na calada da consciência. Vidas vêm e vão, na mesma velocidade em que os carros avançam o sinal verde. Sou apenas mais alguém carregando a bolsa de lado cheia de sonhos e esperanças, procurando o lugar certo para entregar. Destinos se cruzam na próxima esquina, amores surgem na loja da frente. O céu é tão infinito quanto os olhares que se perseguem, o sol irradia tanto quanto as almas ao meu redor. Todos querem um pedacinho de nuvem para descansar. No fim do dia corpos cansados se recolherão aleatoriamente, sozinhos ou acompanhados, sadios ou doentes aos seus respectivos leitos e farão o pedido para o dia posterior, sonharão com um amor distante, ou com aquele que está logo ao lado. As estrelas serão lembradas com sorrisos quando em abraço se olhar para o céu. Capaz seria que se em meio à correria todos parassem por um minuto e sorrisse para o lado, o mundo dormiria mais feliz. Há vida em demasia, creio que haja amor também, de sobra. Agora sei porque o céu é infinito, e o mar imensurávelmente grande. Haja céu para tanto sonho, haja mar para tanto choro.

sábado, 19 de novembro de 2011

A pequenez no universo.

       Sempre tive curiosidade sobre o universo. Desde pequenina sua imensidão me chama atenção. Aos oito, roubei de meu irmão um livro que falava sobre cada planeta, inclusive plutão, que ainda era considerado um. E eu li e reli esse livro inúmeras vezes. Falava sobre como o homem fez sua primeira viagem espacial na quinta missão do Programa Apollo, a “Apollo 11”. Nesse ponto tive orgulho de fazer parte da humanidade. Aos poucos fui identificando cada planeta pelas suas peculiaridades. Imaginava a vida impossível em cada um. Considerava alucinante a proximidade de Mercúrio do Sol. Tinha medo da atmosfera tóxica de Vênus. Achava lindo o vermelho de Marte. Júpiter parecia incrível, cheguei a ter vontade de visitá-lo, por isso o fato de ele ser um planeta gasoso me dava nos nervos. Tinha vontade de sair patinando sobre seus anéis de gelo. Pensava sobre o quão congelante deveria ser estar tão distante do sol.
    Cheguei a me imaginar morando em Plutão. E, após ler O Pequeno Príncipe, pensei em como seria fantástico morar num asteróide só meu. Ou quem sabe eu poderia dividir o asteróide B 612 com a pequenice do personagem de Antoine de Saint-Exupéry, por quem me encantei. Queria ser astronauta e até brincava que a cama de meus pais era solo lunar.   Pedi um telescópio de presente do dia das crianças. Sonhei em trabalhar na Nasa, em observatórios nas Cordilheira dos Andes e estudar sobre supernovas. Isolada de todos e envolvida apenas com as minhas curiosidades sobre o infinito. Tive medo de sermos atingidos por corpos soltos ou engolidos por um tremendo buraco negro. Mas nunca deixei de gostar de observar o céu noturno, principalmente quando não nublado, me faz sentir como se realmente fizesse parte desse infinito. Que louco é estarmos perdidos no meio disso tudo.
    Encanta-me o quão vasto o universo é. Sua imensidão acomodando inúmeras galáxias, sistemas, entre outras organizações que o homem fez para poder compreendê-lo melhor. Fenômenos, dos quais não fazemos ideias, acontecem nele o tempo todo, como uma dança. Várias danças. E todas são lindas e admiráveis de se imaginar. A forma como um grupo de corpos têm seu sol e nele vivem a realizar translação sem cansar ou cessar. Alguns são teimosos e insistem em não fazer parte de dança alguma. Querem apenas seguirem soltos e sem rumo pela escuridão. Mal sabem esses que também fazem parte da festa. A morte das estrelas gerando supernova. Pedaços de corpos que perderam sua origem, mas não deixam de serem incríveis em suas características. Asteroides trazem consigo histórias de qualquer lugar do universo.
   Mas as estrelas sempre me encantaram mais. Elas são, aparentemente, as mais reservadas. Mas apesar de terem um brilho humilde, elas formam, juntas, constelações e formas tão hiperinteressantes que já fizerem o homem se perder nelas. Tentar desvendar o futuro através delas. Elas estão em maioria, espalhadas por todo o infinito. Dando ainda mais beleza a imensidão. Eu não gosto do miticismo que insistem em colocar nelas. Faz pensar que elas, por si só, já não são maravilhosas o suficiente. A existência de vida na Terra é surpreendente. Em bilhões de anos, uma combinação de acontecimentos, colisões e reações químicas ocorreram. Ciência pura. Ainda irei desvendar muitas coisas sobre o universo. Saber que faço parte desse infinito me faz bem. É loucura mesmo, sou meio fora dos eixos, acontece com os melhores. Newton, Galileu e Copérnico que o digam.

sábado, 12 de novembro de 2011

Verbalizando resquícios de mim.

    Eu chovo junto com a chuva, purifico, hidrato, rejuvenesço. Escuto a música e ela é tão boa que a vida acaba, se cala para ouvir, paralisa os segundos, os semáforos, os vendavais; mas a morte não existe. Eu deixo-me dominar por surtos de inspirações danados à beça, que pegam-me de supetão e burlam a hora marcada. Abrigo num corpo tão pequeno sentimentos opostos, vontades insanas e lágrimas que parecem sorrir, tão zombeteiras. Aí vou me perdendo na busca por mim mesma, por respostas para perguntas ainda não formuladas e textos para por pontos de interrogações aleatórios. Meu maior desejo é morar numa casa sem teto com paredes de vidro, bem longe, em lugar nenhum, para que as estrelas cubram cimento e eu possa acordar com os primeiros raios da manhã. Não quero proteção, quero céu, cor azul, fragrância das flores, brisa gélida e inspiração para singelos poemas escritos em prosa. Eu fascino-me com as cores cujo nome não faço ideia, envolvo-me com livros de todos os gêneros possíveis e vivo vidas que não são minhas.    
  Personifico papel, sinos e estações, porque sei que eles também respiram; o som, porém, é silencioso e imperceptível, já que não há narina, apenas essência. Disseram-me que branca mesmo era a tez da manhã, e agora meus olhos escuros almejam um contraste ao acaso. Se paz sem voz não é paz, mas medo, então grito, expulso sentimentos parasitas, faço-me trator e demulo a mobília, tanto real quanto metafórica. Não evito, não controlo, apenas chovo junto com a chuva, purifico, hidrato, rejuvenesço, porque sou corpo humano com alma de flor. Flor daquelas que se desfazem com o vento e precisam de amor para brotarem, mas sempre caem por terra nos mal-me-quer, bem-me-quer. Flor do tipo que guarda uma fragrância misteriosa e entrega a alma para poetas que fazem delas uma obra de arte. Eu sou eu porque não sei ser outro alguém, e aí confundo, baralho conceitos e sentimentos como se eles fossem rei e rainha de copas. Eu corro, eu fujo, me afasto e deixo uma carta sobre a cômoda: “Dessa vez, talvez não volte”.     
   Verbalizo sensações e pedaços que cato de mim mesma, faço reconstruções dos meus castelos e masmorras, tento seguir um protótipo de “humano ideal” mas me perco. Então - mas só então - finalizo textos sem sentido com travessas reticências, que riem, caçoam, saem de fininho, deixando-me só…

Sede saciável - uma crítica

“Shoppings cheios, bibliotecas vazias”. Essa é a oposição clichê mais usada pela sociedade moderna, mas que nada faz além de conceder alguns instantes de reflexão às mentes de crianças e adolescentes. Ainda que ignoremos, de forma sucinta, a teoria temerosa se prova verdadeira: o povo não lê.
  A geração atual, extremamente vulnerável, parece não se importar com a situação que foi imposta; já estando adaptada ao modelo de vida tecnológico implantado pelos aparelhos interativos movidos à eletricidade, convive pacificamente com distrações e passa tempos, substitutos dos livros.
  Talvez por praticidade (já que comprar um videogame é mais fácil do que ensinar o filho a ler, interpretar e filtrar as informações do papel), os pais assumem parte da responsabilidade pela ausência do hábito da leitura em seus filhos. A instituição educacional também não se isenta de culpa, pois ao usar métodos insuficientes para estimular o desejo de ler em seus alunos, deixa de contribuir para o progresso intelectual dos mesmos.
  Outro fator que desvia o foco das pessoas é a liberdade concedida erroneamente, pois, às vezes, é necessário “empurrar” um livro e colocá-lo na frente da tela do computador, além da apresentação da arte da leitura de forma excessivamente individual e comum.
  Pode-se concluir, portanto, que o funcionamento social, a imposição, pela mídia, de estereótipos que valorizam a aparência externa e pouco estimulam a intelectualidade e o fato de que a estrutura que forma a maior parte dos jovens cidadãos é frágil e influenciável são alguns motivos que contribuem para a saciação da sede pela leitura na sociedade atual. 

Pronto. Desabafei!