sábado, 12 de novembro de 2011

Verbalizando resquícios de mim.

    Eu chovo junto com a chuva, purifico, hidrato, rejuvenesço. Escuto a música e ela é tão boa que a vida acaba, se cala para ouvir, paralisa os segundos, os semáforos, os vendavais; mas a morte não existe. Eu deixo-me dominar por surtos de inspirações danados à beça, que pegam-me de supetão e burlam a hora marcada. Abrigo num corpo tão pequeno sentimentos opostos, vontades insanas e lágrimas que parecem sorrir, tão zombeteiras. Aí vou me perdendo na busca por mim mesma, por respostas para perguntas ainda não formuladas e textos para por pontos de interrogações aleatórios. Meu maior desejo é morar numa casa sem teto com paredes de vidro, bem longe, em lugar nenhum, para que as estrelas cubram cimento e eu possa acordar com os primeiros raios da manhã. Não quero proteção, quero céu, cor azul, fragrância das flores, brisa gélida e inspiração para singelos poemas escritos em prosa. Eu fascino-me com as cores cujo nome não faço ideia, envolvo-me com livros de todos os gêneros possíveis e vivo vidas que não são minhas.    
  Personifico papel, sinos e estações, porque sei que eles também respiram; o som, porém, é silencioso e imperceptível, já que não há narina, apenas essência. Disseram-me que branca mesmo era a tez da manhã, e agora meus olhos escuros almejam um contraste ao acaso. Se paz sem voz não é paz, mas medo, então grito, expulso sentimentos parasitas, faço-me trator e demulo a mobília, tanto real quanto metafórica. Não evito, não controlo, apenas chovo junto com a chuva, purifico, hidrato, rejuvenesço, porque sou corpo humano com alma de flor. Flor daquelas que se desfazem com o vento e precisam de amor para brotarem, mas sempre caem por terra nos mal-me-quer, bem-me-quer. Flor do tipo que guarda uma fragrância misteriosa e entrega a alma para poetas que fazem delas uma obra de arte. Eu sou eu porque não sei ser outro alguém, e aí confundo, baralho conceitos e sentimentos como se eles fossem rei e rainha de copas. Eu corro, eu fujo, me afasto e deixo uma carta sobre a cômoda: “Dessa vez, talvez não volte”.     
   Verbalizo sensações e pedaços que cato de mim mesma, faço reconstruções dos meus castelos e masmorras, tento seguir um protótipo de “humano ideal” mas me perco. Então - mas só então - finalizo textos sem sentido com travessas reticências, que riem, caçoam, saem de fininho, deixando-me só…

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