quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O suicídio começa por dentro.



Tão jovem e já tão acabada... sem vontade de viver, de continuar de pé, de ao menos levantar da cama toda manhã... tanta dor, tanto sofrimento ela sentia, mas lá estava ela de pé sorrindo e fingindo novamente pra todos que estava bem. Quando eu penso que as coisas estão melhorando, a vida vem me dizendo que estou errada, dando-me uma amostra grátis do verdadeiro inferno. Aprendi a sofrer em silêncio quando vi que ninguém queria escutar. Cansei!

Posso. Claro que posso. Apenas não sei se devo. Se ainda é a hora certa. Talvez não seja. E talvez nunca será. Vai depender. Do meu humor. Da minha vontade. Do meu estado emocional. Vai depender de como, minha vida continuará. A decisão não será somente minha. Alguns fatores ajudarão a me encaminhar para minha decisão final. Que, antes que pergunte, eu não sei quando virá, ou se até mesmo um dia chegará a ser tomada. E como já disse no começo, eu posso. Se eu quiser, estiver convicta de que é o melhor a se fazer, nada e nem ninguém conseguirão me fazer mudar de idéia, muito menos impedir-me que o faça. Até mesmo porque, se eu resolver que sim, a hora certa chegou, não contarei a ninguém. Deixarei, talvez, alguma espécie de carta, ou nem isso, explicando alguns fatos, mas não detalhadamente. Não será necessário. O mais concreto eles terão. Que será a única coisa que de mim sobrará depois que eu concluir o que tinha a fazer. Terão meu corpo. Desfalecido. Terão a minha casca. Afinal, minha alma, minha vida, a minha essência já não estará lá. Eu terei acabado com tudo. Terei acabado porque achei ser o melhor a ser feito. O melhor a ser feito por mim. Não duvides quando eu digo que posso. Você não sabe do que sou capaz. Não conhece minhas dores, meus medos e minhas angústias. Talvez, nem eu conheça-me totalmente. Se um dia eu chegar a tomar essa decisão, e acabar com tudo, não pense que foi uma loucura qualquer. Que me tornei apenas mais uma alma perdida. Confie no que te digo e saiba que foi total sanidade. Que o fiz apenas por saber que morrer era o melhor a ser feito, que era o melhor que eu poderia fazer por mim. E não me julgue, não me critique, te peço. Apenas se lembre de cada detalhe, e perceba que, antes mesmo de eu tirar minha vida, eu já vinha morrendo aos poucos, morrendo lentamente, só que por dentro.

Só pra deixar bem claro, não vou cometer suicídio, sou covarde até pra isso... como eu queria ter coragem de partir... mas algo me impede.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Chorou em silêncio.

Alguns dramas nunca são demais. Não é exagero meu dizer que ninguém se importa. Talvez meu pai ou minha mãe tenham alguma preocupação com meu futuro. Mas a verdade é que tudo que eles mais desejam é que eu faça minha vida e livre eles. Se você tenta falar isso para alguém, te cortam nas primeiras palavras e dizem logo que você está cheia de dramas. O fato é que ninguém sabe o que cada um passa dentro de si. “Ninguém me entende” porque ninguém pode entender mesmo o que acontece com o outro. E, para falar a verdade, eu não quero ser entendida também. O que desejo é que alguém possa simplesmente me escutar e, ainda que ache tudo aquilo que tenho a dizer a maior loucura, não julgar. 

Mas o pior de tudo é a indiferença alheia. Custa ouvir só um pouquinho? Sem dizer que é drama, frescura ou baboseira? Pra quem quer ser ouvido custa. Custa porque faz toda a diferença. Faz qualquer um sentir-se aliviado. Só que ninguém está disposto a sentar e ouvir problemas alheios. Então você procura fazer isso com psicólogos desde… Sempre? É, desde que você começou a ficar “paranoica e cheia de frescuras”. Problemas psicológicos it’s the new black. E por conta disso, principalmente por isso, as pessoas vão te julgar como alguém que está querendo atenção demais. Quando tudo que você gostaria era ser ouvido ali no canto, receber um abraço verdadeiro e passar despercebido.    

Então você se fecha e não fala nada para ninguém nunca. E passa a ser vista como orgulhosa ou convencida demais. E você vai desaparecendo aos poucos, como a fumaça se dissipa no ar. E as pessoas vão te esquecendo. E você fica muito bem com isso, porque era isso que queria, afinal. Ser esquecido para não ser um fingido. Uma vez que está cansado de ficar abrindo largos sorrisos só para agradar. E ficar respondendo que está tudo ótimo, quando na verdade não está. E o mais ruim de tudo isso é você mesmo não saber o seu problema. Então você tenta ignorá-lo e seguir um cotidiano que te force a fingir e fingir… E fingir. Aí quando você faz isso as pessoas pensam que você finalmente “voltou ao normal”. E você realmente voltou ao normal. Porque no fim, o normal é fingir.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Eu sou um texto.

O texto não precisa ser dramático. Não precisa ser escrito cheio de profundidades aleatórias, sangues inexistentes ou choros que você desconhece. Precisa de imaginação, jamais de fingimento. O texto é quase como um jornal: não precisa ser apelativo, ainda que às vezes isso nos fuja. A notícia errada traz a sensação de desconfiança. E ninguém quer palavras desconfiadas. Mas há, entre muitas coisas que ele não precisa ser, uma que ele precisa: seu. O texto precisa ser seu, repleto de você. Da sua dor até a sua maior alegria, todo seu. E quantas vezes me perguntarem o que o texto precisa ter, eu direi: ele precisa ter as doses suas do momento. E será seu, sempre seu, mas chegará aos outros como se fosse deles, e também será, por sentirem que não são os únicos. Repetindo, o texto é quase como um jornal, contando uma história com o seu protagonista, mas fazendo mil leitores a gravarem na memória e tomarem para si. O texto, meus queridos, precisa ser recheado de vocês

Entre gritos e cochichos, me perco em meus próprios monólogos.

As pontas de meus dedos estão levemente rasgadas, devido as cordas do violão que eu tanto insisto em tocar, e dessa forma, escrever parece ser uma tarefa quase impossível. Ninguém compreende essa minha necessidade de pôr pra fora tudo aquilo que me faz transbordar; fazem-se cínicos, como se conseguissem suportar os sentimentos que também carregam dentro de si mesmos. Ignoram-me, como se não soubessem o quão ruim é ter suas emoções menosprezadas. Mesmo assim, não me importo, e em meio a tanta hipocrisia, me ouço perguntando como estou, respondendo que estou muito bem, obrigada, e sinto lágrimas rolarem pelo rosto. Do que adianta mentir, se me conheço mais do que qualquer outra pessoa? Logo falo para mim mesma que esse tempo nublado me desanima, que eu quero chuva ou sol (talvez os dois juntos), porque a ausência de cor no dia faz-me ainda mais cinzenta. Eu revelo que temo borboletas e não as lagartas, que invejo as gaivotas lá do céu, que gosto de desenhar (o que não é de praxe), mas quando desenho, faço como esboço, com a mão leve, sem medidas ou pretensões, e que essa é apenas mais uma frustração. Ninguém sabe admirar os meus traços malfeitos; apenas eu vejo beleza na irrefutável feiura de meus desenhos, vejo nítida a nostalgia e lembro-me de que quando eu era criança e desenhava da mesma forma. Digo, também, que um de meus maiores sonhos é aprender a tocar piano, pois ele é de tamanha boniteza, que faz-me chorar e desmancha meu rancor, convertendo em alegria. Ao mesmo tempo que é sonho, é vida, e aí não precisa pender entre os dois planos mais complexos da história dos seres humanos. Eu conto, peço segredo, começo um monólogo quase infinito, como se não me cansasse de falar. Eu grito, cochicho e, às vezes, me perco. Aí olho para os meus dedos e vejo que eles ainda doem, ainda parecem meio rasgados, sem força. Apenas respiro.
E recomeço a falar.

Escreverei.

A garota abriu o livro.    

Dedilhou-o calmamente, com dedos costumeiramente famintos, ansiosos, mas pacientes. Estava sentada no chão frio da varanda, sentindo a brisa gélida beijar seu rosto, degustando a sensação de completa paz na qual estava imersa. Era noite, e sobre si mesma pairava o elegantíssimo pedaço da lua, o único vestígio de inspiração que o céu a concedia. A menina ainda não havia lido o livro e, especialmente por isso - porque aquelas páginas estavam cobertas por um esplêndido véu de mistério -, a comoção residia. Finalmente, sobre a primeira página foram postos os olhos dela, e a seguinte ordem foi lida: ESCREVA.      

Surpresa, começou a pensar. Havia consumido tantas palavras, aprisionado em seu cérebro a imensidão de tanto conhecimento, que talvez - ou melhor, provavelmente - estivesse pronta para vomitar tudo em pedaços de papel.   

Fechou o livro e tascou um beijo em sua capa pintada. Entrou na casa, pegou dois lápis e fez-se história:   

“Os corpos imploram por mais alma, o mundo chora lágrimas que, antes mesmo decaírem, já se amarguram. Mas, ainda assim, há muitos sorrisos ingênuos, muita felicidade camuflada em medos fúnebres, muita solidão à espera de companhia.”      

Com os dedos antes ansiosos completamente concentrados, mexendo de um lado para o outro, continuou.    

E a noite fez-se eterna…