quinta-feira, 4 de agosto de 2011

  Talvez fosse melhor se cada pessoa na rua tivesse uma espécie de capa ligada a ela. Tivesse uma sinopse, uma dedicatória e um agradecimento. Talvez assim fosse mais fácil escolher quem entra na nossa vida e quem fica de fora. “Hm, esse é excêntrico demais pra mim.” “Hm, aquele outro gosta de muita curtição, vai me fazer sofrer.” Talvez assim fosse mais fácil rotular, separar, agrupar. Seria mais fácil fazer amizade, se enturmar, achar alguém com o gosto parecido com o seu. Mas não. Viemos todos sem nenhum código de barra pra identificação. Viemos todos sem embalagem, sem cupom de desconto, sem descrição dos ingredientes. Somos todos textos sem títulos. Somos todos palavras soltas sem sentido. Somos todos letras jogadas ao vento doidas para serem lidas. Mas com preguiça de ler a frase formada em volta. Somos acentos querendo ser utilizados, somos rimas preciosas querendo ser notadas. Mas com indiferença e apatia ao reparar os versos das pessoas ao lado. Com certo desdém em apreciar outras líricas, outra musicalidade. Mas talvez se as pessoas viessem com um título, nós nos interessaríamos mais em continuar. Já daria pra saber o que nos espera: romance, comédia ou terror. Mas não. É um mistério. É um enigma que só se descobre quando começa a ler. É um código que só se decifra quando tem força de vontade. E não tem jeito, todos somos um texto sem título, todo enfeitado, querendo chamar a atenção dos outros, mas com preguiça de reparar o que nos cerca. 

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