quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Escreverei.

A garota abriu o livro.    

Dedilhou-o calmamente, com dedos costumeiramente famintos, ansiosos, mas pacientes. Estava sentada no chão frio da varanda, sentindo a brisa gélida beijar seu rosto, degustando a sensação de completa paz na qual estava imersa. Era noite, e sobre si mesma pairava o elegantíssimo pedaço da lua, o único vestígio de inspiração que o céu a concedia. A menina ainda não havia lido o livro e, especialmente por isso - porque aquelas páginas estavam cobertas por um esplêndido véu de mistério -, a comoção residia. Finalmente, sobre a primeira página foram postos os olhos dela, e a seguinte ordem foi lida: ESCREVA.      

Surpresa, começou a pensar. Havia consumido tantas palavras, aprisionado em seu cérebro a imensidão de tanto conhecimento, que talvez - ou melhor, provavelmente - estivesse pronta para vomitar tudo em pedaços de papel.   

Fechou o livro e tascou um beijo em sua capa pintada. Entrou na casa, pegou dois lápis e fez-se história:   

“Os corpos imploram por mais alma, o mundo chora lágrimas que, antes mesmo decaírem, já se amarguram. Mas, ainda assim, há muitos sorrisos ingênuos, muita felicidade camuflada em medos fúnebres, muita solidão à espera de companhia.”      

Com os dedos antes ansiosos completamente concentrados, mexendo de um lado para o outro, continuou.    

E a noite fez-se eterna…

Nenhum comentário:

Postar um comentário