A garota abriu o livro.
Dedilhou-o calmamente, com dedos costumeiramente famintos, ansiosos, mas pacientes. Estava sentada no chão frio da varanda, sentindo a brisa gélida beijar seu rosto, degustando a sensação de completa paz na qual estava imersa. Era noite, e sobre si mesma pairava o elegantíssimo pedaço da lua, o único vestígio de inspiração que o céu a concedia. A menina ainda não havia lido o livro e, especialmente por isso - porque aquelas páginas estavam cobertas por um esplêndido véu de mistério -, a comoção residia. Finalmente, sobre a primeira página foram postos os olhos dela, e a seguinte ordem foi lida: ESCREVA.
Surpresa, começou a pensar. Havia consumido tantas palavras, aprisionado em seu cérebro a imensidão de tanto conhecimento, que talvez - ou melhor, provavelmente - estivesse pronta para vomitar tudo em pedaços de papel.
Fechou o livro e tascou um beijo em sua capa pintada. Entrou na casa, pegou dois lápis e fez-se história:
“Os corpos imploram por mais alma, o mundo chora lágrimas que, antes mesmo decaírem, já se amarguram. Mas, ainda assim, há muitos sorrisos ingênuos, muita felicidade camuflada em medos fúnebres, muita solidão à espera de companhia.”
Com os dedos antes ansiosos completamente concentrados, mexendo de um lado para o outro, continuou.
E a noite fez-se eterna…
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